Crónicas & Corona - Pandemia 2

Crónica & Corona nº3 - 31 janeiro 2021


(…) Crónica & Corona nº1 e nº2


E a vida “escolar” recomeçou depois do verão de 2020… Retornei ao “presencial”, com máscaras, desinfeções constantes, sala esvaziada (sem os “meus paninhos coloridos” na área da casinha, sem “os bonecos de pano” que os Duendes levavam para casa ao fim de semana; sem "os paninhos coloridos maiores" que serviam para fazer "o jogo das tendinhas"; sem um sem número de objetos e materiais que constituem o ambiente educativo da sala; sem, sem, sem…etc. etc. etc.). Sem os abraços coletivos, sem as expressões faciais que tanto falam, substituindo algumas palavras e orientações... Remendou-se uma educação de infância… Mas, mesmo assim, não faltaram os colinhos e os abraços aos meus Duendes. Não houve, contudo, os beijinhos da fada, depois do relaxamento. E, assim, tentámos tecer laços, construir cumplicidades entre todos os intervenientes do acto educativo - famílias, crianças e equipa. Não houve festa de Natal, não houve festa das castanhas, não houve a festa do Pijama, não houve a ida ao teatro, não houve o cantar das Janeiras, etc…

Mas, ainda assim, fomos tentando estreitar laços, construir cumplicidades e solidariedades, consolidar sentimentos de pertença  com as famílias e a equipa. Implementámos uma comunicação diária via WhatsApp, tanto com a equipa como com as famílias, e, sobretudo, no seio do grupo dos Duendes…

Chegámos ao início do ano novo 2021 e o Corona atingiu o jardim de infância… Por precaução, fiquei em isolamento profilático (através da Saúde 24)…  Ainda este não tinha terminado, voltamos ao confinamento… Pandemia fase 2… Vamos, então, retomar o Ensino@Distância… Como se, em educação de infância, isso fosse compaginável… Mas tem de ser, pois a conservação e a preservação da saúde e da vida é um valor maior, inalienável e inquestionável.

Como já tivemos uma primeira experiência o ano passado, faz agora um ano, esta nova experiência não parece ser tão assustadora. Metade do grupo, que já a viveu comigo, está mais crescido e mais coeso, tanto as famílias como as crianças… Já sabe quais vão ser os procedimentos…O grupo de famílias consolidou laços e criou sentimentos de pertença durante estes 5 meses (setembro, outubro, novembro, dezembro e janeiro).

Estou mais tranquila do que no anterior confinamento… E por mais paradoxal que possa parecer, até fiquei agradecida com este novo confinamento e passo a explicar porquê. A minha mãe, da qual sou cuidadora informal há alguns anos (tal como o fui do meu pai), no dia seguinte ao Natal, caiu em casa e partiu o colo do fémur. Esteve hospitalizada durante a pausa de Natal, sem direito a qualquer visita. No primeiro dia de “aulas” de janeiro, foi sujeita a uma intervenção cirúrgica. Na mesma semana em que o Corona apareceu no jardim de infância, teve alta hospitalar e voltou para casa… Logo nesse fim de semana entrei em isolamento profilático por 14 dias (pela Saude24). Pude acompanhar o pós-operatório da minha “kokuana” (expressão moçambicana para pessoa mais velha) e assim cuidar dela com toda a dedicação para que a sua recuperação fosse serenamente consolidada, considerando as comorbidades que a idade avançada (92 anos), inevitavelmente, traz. Entre idas e vindas ao hospital para retirar os agrafes e fazer RX, não apanhámos o Corona. Em casa, é certo que ando de máscara para cuidar dela, para não arriscar contagiá-la. E sim, estou grata por poder cuidar dela, dia a dia, hora a hora, prosseguindo, contudo, em E@D com os meus Duendes e suas famílias.

Durante as duas semanas de isolamento profilático, continuei a apoiar os meus Duendes e suas famílias com contactos diários via WhatsApp e com propostas semanais via blogue e mesmo via Zoom (duas sessões para “matar saudades” na véspera de ser instaurada a “suspensão das atividades letivas”).

Presentemente, estamos em avaliação semestral e a preparar mais uns meses (quantos?) de E@D...Só pode correr melhor, pois já ganhámos experiência…Oxalá o Corona não nos venha bater à porta…

E, acima de tudo, lembramo-nos que mais vale “perder” um “ano escolar” na vida do que a vida num “ano escolar”… Porque a vida é muito mais do que Escola. A vida começa e acaba em casa, com os modelos parentais com quem se lida com o stresse, as pressões, os constrangimentos, de forma a transmitir confiança e esperança apesar dos contratempos…

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